sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

“A NOSTALGIA DO TEMPO DAS VÍDEO-LOCADORAS" – EPISÓDIO 1: “REBOBINE, POR FAVOR”


Há pouco tempo chegou ao meu conhecimento dois vídeos gringos sobre vídeo-locadoras. Sim! Eu falarei do saudosismo dos tempos de “leve 4 filmes e pague 3”, “alugue 5 filmes e fique mais um dia com eles” e “por favor, ao assistir seu filme, não esqueça de rebobinar; filmes devolvidos sem que estejam rebobinados será cobrado multa”! :D





Bom, mesmo que você tenha 20 anos ou menos e já nasceu na era dos Netflix e torrents da vida, deve saber que antes dos DVDs piratas e do Emule, se você quisesse assistir a um filme, tinha 3 opções “apenas”: ir ao cinema, esperar ele estar entre a lista de “Filmes Inéditos” anunciados pela TV no começo de cada ano (e que só passavam no final do ano) ou, alugar o filme numa locadora de vídeo! =P

As lojas que alugavam filmes em fitas VHS (e posteriormente em LaserDisc, DVD e Blu-ray) tiveram um boom nos anos 80 e nos anos 90 já tinha uma em cada esquina do seu bairro, pode ter certeza, como na época do boom de LAN Houses (algumas delas, ex-video-locadoras =P). Mas com o crescimento de DVDs piratas e a Internet de banda larga, elas foram minguando durante os primeiros anos desse século, até ficarem quase extintas... QUASE! 

Aqui mesmo no Brasil, aqui em São Paulo, ainda há algumas locadoras resistentes, em um ou outro bairro. Perto da minha casa há uma com nome de Enigma Vídeo e pra mim realmente é um enigma como ela sobrevive até hoje. =/

Bom, e os vídeos que eu disse lá em cima? O primeiro foi o segundo que eu vi, na verdade, e é sobre uma locadora nos EUA que, depois de muitos anos e muita cumplicidade com seus clientes, teve que fechar as portas. Ben Churchill, ex-funcionário da Video Wolrd, fez um documentário sobre os últimos dias da locadora que fez parta da sua vida (com aparição do Joe Pantoliano por alguns segundos):


O vídeo está em inglês (sem legendas), mas vale a pena dar uma olhada. É bonito e triste. E despertou em mim a nostalgia de minha adolescência e minha rotina semanal de alugar ao menos 3 ou 4 filmes toda sexta-feira, na Genesis Vídeo, uma locadora bem grande e com muita coisa legal, que tinha em Santo André, cidade do ABC Paulista onde eu morava.

O vídeo foca na relação de vizinhança que a locadora tinha, que cada vez vem diminuindo mais na sociedade atual (que é o grande problema tratado no filme Ela, se você quer saber! =P) e faz da locadora um lugar parecido com nossos bares e mercadinhos antigos, onde as pessoas passam horas conversando sobre coisas que gostavam e todos se conheciam. Mas a nostalgia que senti dos tempos de locadora tem a ver mais com uma experiência ritualística e rotineira que morreu.

Eu passava na locadora depois do trabalho, toda sexta-feira, e torcia para que alguns lançamentos que eu queira ver ainda não tivessem sido alugados. Os lançamentos eram sempre os mais populares e, assim como hoje as pessoas vão aos bares na sexta à noite ou passam na pizzaria, naquela época todos passavam na locadora para pegar o filme do momento que não conseguiu ver no cinema! A locadora normalmente tinha 4, 5, ou mais cópias dos filmes mais badalados, mas nem sempre era suficiente...

Então, eu pegava 1 ou 2 lançamentos e ia para as prateleiras divididas por gêneros, para procurar por coisas antigas que eu ainda não conhecia, ou não tinha visto ainda, ou alguém havia me indicado... Alugava 4, 5, até 6 filmes num final de semana e devo dizer que não foi graças ao cinema que eu passei a gostar tanto de filmes... Devo tudo às locadoras! Cinema sempre foi algo meio caro para mim, e muitas vezes longe (isso foi antes do monte de shoppings com 10, 15 salas de cinema... e antes do Bilhete Único, hehe! =P). Então eu ia de vem em quando no cinema. A maioria dos filmes que eu assisti no final dos anos 80 e durante todos os anos 90 foram na TV e, principalmente, alugados em vídeo-locadoras.

Hoje tem Internet, claro. Mas me gabo de dizer que alguns filmes que vi e gostei muito não se acham com facilidade para baixar e muitas vezes nem têm legendas! Ficaram lá, nos tempos do VHS!

Uma coisa boa – de certa foram – é que hoje existe uma moda retrô nostálgica, num desespero da geração atual por algum sentido lírico e alguma poesia em suas vidas. E, entre coisas “vintage” que veem voltando à moda e adoradas por hispters-geeks de todo o mundo, a vídeo-locadora é uma delas. É o caso da Scarecrow Video, também nos EUA, que era uma locadora “normal” que virou uma espécie de 2001 turbinada, com milhares de filmes obscuros e independentes!


Às vezes converso com meus amigos sobre uma percepção quanto à geração atual. Esse sentimento (que pode ser só loucura minha, claro) de que as pessoas têm tudo à mão, tem Internet, Facebook, smartphones, Netflix, Xbox e tudo mais, mas falta um sentido, uma relação social mais profunda. Faltam experiências sociais que carregarão pela vida e lembrarão quando ficarem velhos, como “coisas boas que fazem parte da vida”. Tô viajando? Falando besteira? Fui muito poético? Bem, o fato é que estabelecimentos e negócios “vintage-indies-nolstálgicos” como a Scarecrow têm crescido cada vez mais, sobretudo no mundo hispter-geek!

É claro que, diferente de quem viveu a época, hoje essas lojas são como um ponto de encontro e convívio. A Scarecrow é uma espécie de Starbucks que aluga filmes! Na minha época era só uma vídeo-locadora... Não era um lugar mágico. Era como uma padaria, ou loja de roupas, ou lava-rápido... A mágica veio com a nostalgia.

Isso não desmerece as memorias que tive alugando filmes em vídeo-locadoras e, por isso, farei nos próximos posts, um apanhado sobre os filmes daquela época, incluindo alguns filmes que fizeram sucesso muito mais nas locadoras do que no cinema. =)

Até lá, recomendo o filme que o Michel Gondry fez em “homenagem” aos tempos das locadoras, o Rebobine, Por Favor:


O filme é praticamente dividido em duas partes, numa delas a história divertida que resgata filmes dos anos 80 e começo dos 90, e na outra um lado mais poético sobre a realização de um filme da comunidade local. É um filme que gosto muito, não só por causa da história do VHS e dos “filmes suecados” que eles produzem, mas principalmente pelas histórias de relações entre as pessoas de um bairro pobre e sobre como filmes antigos e lendas locais podem inspirar jovens aspirantes a cineastas a fazer filmes. Bem bacana! =)

E tem também o clássico O Balconista, do Kevin Smith, e sua sequência, o Balconista 2:




Nerd que não assistiu esses filmes, não é nerd! Tira essa camiseta do Star Wars, que você não merece! Hahahaha!

E antes que você diga “os gringos são fodas”, eu indico uma série feita para Internet, encomendada por uma operadora de celular, que se passa em uma locadora no Rio de Janeiro e é bem legal:


Teve até filme, feito pelo Cavi Borges (que é dono de uma locadora), cineasta independente que, ouso dizer, é um Ozualdo Candeias de nosso tempo! =P


Eu poderia falar do Tiro e Queda, filme em que o Mark Wahlberg é cobrado pela devolução de um filme que alugou... Mas vou deixar pro próximo post, hehe.


Até mais ;)

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